Você prefere viver ou morrer?

Você prefere viver ou morrer?

Ainda é noite quando me levanto, caminhando lentamente e sonolento em um corredor escuro que dá acesso aos quartos, de repente me dou conta que a casa não é mais a mesma depois que tudo aconteceu.

Em uma vida árdua, fui criado por minha avó materna cujo seu nome é o grito da dor e do desespero, não pude exercer minha luxúria, pois a vida logo cedo me encurralou no beco da Cry St, e mesmo com meus pensamentos me pressionando para o fim, resisti e me esforcei para manter-me vivo até agora.

ponte

Lembro-me do dia em que tive que ir ao hospital do centro, após uma ligação de uma educada donzela com voz aveludada e sotaque burguês, e me pediu para falar com minha mãe, tão jovem e extremamente ativa e alegre, eu passei o telefone sem dizer nada – Não me interessava qual era o assunto, minha idade não permitia que minha mente fosse além do Tom e Jerry que passara no SBT naquela manhã.

Mesmo sendo criança, consegui perceber o semblante da minha amada mãe mudar – Ela que hoje permanece viva em minha memória. Mas seu semblante não mudou para melhor, é apenas o que soube interpretar. Embora eu não soubesse ao certo o que é tristeza, apenas manha e o dengo, eu sabia que algo sério havia ocorrido, e com um arrepio frio, não senti meu irmão presente na mesma dimensão que a minha.

É junho e já tenho 2 anos amais do que quando perdi meu irmão, estou com minha avó Socorro na sala de estar, ela tricotando e eu jogando video-game, aquele, mais antigo que o dos meus colegas da escola. Minha mãe está na cama, e desde que meu irmão faleceu eu nunca mais a vi sorrir, em seus olhos passavam um filme repetidamente, sem pausa, durante esses dois anos. A falta de alimentação adequada fez com que seu sangue virasse água, e eu, mesmo com apenas dois anos amais de sabedoria, sabia que ela logo encontraria o que desejava, encontraria meu irmão e o abraçaria.

Sou fruto de um relacionamento imaturo e incerto, meu irmão era meu apenas do sangue do meu pai, que nunca o conheci e nem ouvi falar. Minha Mãe era minha Mãe por opção isso era claro, e não pelo seu ventre. Mas eu a amava, apesar de minha avó ser um doce, ela era o meu refúgio, sempre foi e sempre será.

Estou aqui, nesse corredor escuro parado, pensando no passado, tentando planejar o presente e o futuro, estou só e minha sensação e a mesma de quando passei a primeira noite sem meu refúgio, o perdi para a maligna doença, fruto de um acidente de carro que levou meu irmão, e trouxe depressão, a mesma depressão que os juntou novamente minha mãe e meu irmão, não os sinto mais aqui.

Minha avó faleceu ano passado vitima de múltiplas complicações cardiovasculares, ela tinha 77 anos e me permitiu viver tudo o que queria viver. Nunca fui um garoto aberto, sempre muito reservado, o que me fez não ter amigos, apenas as lembranças me faziam rir, mas elas me faziam mais chorar.

Hoje tenho 19 anos, não tenho emprego fixo, e moro na casa que era da minha avó. Andar nas ruas não faz sentido, já que ao chegar em casa não tenho com quem comentar os acontecimentos. Agora estou aqui, nesta ponte de frente ao rio que corta todo o sudeste. Não sei o que fazer.

O que você faria?

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